Consagração total à Nossa Senhora
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I
DOZE DIAS PRELIMINARES
empregados em desapegar-se do espírito do mundo
VENI, CREATOR SPIRITUS
Vem, ó Criador Espírito, as almas dos teus visita;
Os corações que criaste, enche de graça infnita.
Tu, Paráclito és chamado dom do Pai celestial,
Fogo, caridade, fonte viva e unção espiritual.
Tu dás septiforme graça; dedo és da destra paterna;
Do Pai, solene promessa, dás força da voz superna.
Nossa razão esclarece, Teu amor no peito acende,
Do nosso corpo a fraqueza com tua força defende.
De nós afasta o inimigo. Dá-nos a paz sem demora,
Guia-nos; e evitaremos tudo quanto se deplora.
Dá que Deus Pai e seu Filho por ti nós bem conheçamos,
E em ti, Espírito de ambos em todo tempo creiamos.
A Deus Pai se dê a glória e ao Filho ressuscitado,
Paráclito e a ti também com louvor perpetuado.
Amém.
V. Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.
OREMOS.
Ó Deus, que instruístes neste dia os corações dos vossos féis com a luz do
Espírito Santo; concedei-nos que no mesmo Espírito conheçamos o que é
reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo nosso Senhor.
R. Amém.
AVE, MARIS STELLA
Ave, do mar Estrela, de Deus Mãe bela,
Sempre Virgem, da morada celeste feliz entrada.
Ó tu que ouviste da boca do anjo a saudação;
Dá-nos paz e quietude; e o nome de Eva troca.
As prisões aos réus desata.
E a nós cegos alumia; de tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.
Ostenta que és Mãe, fazendo que os rogos do povo seu
Ouça aquele que, nascendo por nós, quis ser Filho teu.
Ó Virgem especiosa, toda cheia de ternura, extintos nossos pecados,
Dá-nos pureza e brandura, dá-nos uma vida pura, põe-nos em vida segura,
Para que a Jesus gozemos, e sempre nos alegremos.
A Deus Pai veneremos; a Jesus Cristo também.
E ao Espírito Santo; demos aos três um louvor. Amém.
1º DIA
(fazer primeiro as orações)
Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaramse dele.
Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!
Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos
céus!
Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem
falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.
Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim
perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
Vós sois o sal da terra. Se o sal perde o sabor, com que lhe será restituído o sabor? Para nada
mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre uma montanha nem
se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro,
a fim de que brilhe a todos os que estão em casa.
Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem
vosso Pai que está nos céus.
Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los
à perfeição.
Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da
lei.
Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens,
será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus. (Mt 5,1-19)
I
DOZE DIAS PRELIMINARES
empregados em desapegar-se do espírito do mundo
VENI, CREATOR SPIRITUS
Vem, ó Criador Espírito, as almas dos teus visita;
Os corações que criaste, enche de graça infnita.
Tu, Paráclito és chamado dom do Pai celestial,
Fogo, caridade, fonte viva e unção espiritual.
Tu dás septiforme graça; dedo és da destra paterna;
Do Pai, solene promessa, dás força da voz superna.
Nossa razão esclarece, Teu amor no peito acende,
Do nosso corpo a fraqueza com tua força defende.
De nós afasta o inimigo. Dá-nos a paz sem demora,
Guia-nos; e evitaremos tudo quanto se deplora.
Dá que Deus Pai e seu Filho por ti nós bem conheçamos,
E em ti, Espírito de ambos em todo tempo creiamos.
A Deus Pai se dê a glória e ao Filho ressuscitado,
Paráclito e a ti também com louvor perpetuado.
Amém.
V. Enviai o vosso Espírito, e tudo será criado.
R. E renovareis a face da terra.
OREMOS.
Ó Deus, que instruístes neste dia os corações dos vossos féis com a luz do
Espírito Santo; concedei-nos que no mesmo Espírito conheçamos o que é
reto, e gozemos sempre as suas consolações. Por Cristo nosso Senhor.
R. Amém.
AVE, MARIS STELLA
Ave, do mar Estrela, de Deus Mãe bela,
Sempre Virgem, da morada celeste feliz entrada.
Ó tu que ouviste da boca do anjo a saudação;
Dá-nos paz e quietude; e o nome de Eva troca.
As prisões aos réus desata.
E a nós cegos alumia; de tudo que nos maltrata
Nos livra, o bem nos granjeia.
Ostenta que és Mãe, fazendo que os rogos do povo seu
Ouça aquele que, nascendo por nós, quis ser Filho teu.
Ó Virgem especiosa, toda cheia de ternura, extintos nossos pecados,
Dá-nos pureza e brandura, dá-nos uma vida pura, põe-nos em vida segura,
Para que a Jesus gozemos, e sempre nos alegremos.
A Deus Pai veneremos; a Jesus Cristo também.
E ao Espírito Santo; demos aos três um louvor. Amém.
2º DIA
(fazer primeiro as orações)
Portanto, sede perfeitos, assim como vosso Pai celeste é perfeito.
Guardai-vos de fazer vossas boas obras diante dos homens, para serdes vistos por eles. Do
contrário, não tereis recompensa junto de vosso Pai que está no céu.
Quando, pois, dás esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas
sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam
sua recompensa.
Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas
esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua
recompensa.
Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que
vê num lugar oculto, recompensar-te-á.
Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão
ouvidos à força de palavras.
Não os imiteis, porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.
Eis como deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; venha a
nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje; perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós
perdoamos aos que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal.
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará.
Mas se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará. (Mt 5,48;6,1-15)
4º DIA
(fazer primeiro as orações)
Que o homem de si nada tem de bom, nem coisa alguma de que gloriar-se
Senhor, que é o homem, para que Vos lembreis dele? E que é o filho do homem, para que o
visiteis? (Sl 8,5)
Que merecimento tinha o homem para que lhe désses vossa graça?
De que poderei queixar-me, Senhor, se me desamparardes? Ou que terei justamente que dizer
se não fizerdes o que eu peço?
Por certo que não posso pensar, nem dizer com verdade, senão isto: Nada sou, Senhor, nada
posso, nada de bom tenho de mim, de tudo que é bom acho-me vazio e caminho sempre para o
nada.
E se não for ajudado e fortalecido interiormente por Vós, para logo cairei na tibieza e
dissipação.
Vós porém, Senhor, sempre sois o mesmo e permaneceis eternamente bom, justo e santo,
agindo sempre com bondade, com justiça e santidade, e ordenando tudo com sabedoria (Sl
101,27).
Mas eu, que mais pendo para o mal que para o bem, não persevero muito tempo no mesmo
estado e mudo muitas vezes no dia.
Contudo, logo me acho menos fraco quando vos dignais estender-me vossa mão auxiliadora;
porque Vós só, sem humano favor, me podeis socorrer e fortificar, de tal sorte que não esteja
jamais sujeito a todas essas mudanças, e meu coração só para Vós se converta, e em Vós só
descanse para sempre. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XL, 1-2)
Quem se considera mui seguro em tempo de paz se achará tímido e covarde em tempo de
guerra.
Se souberas viver sempre humilde e pequeno no teu conceito, contendo-te nos limites duma
justa moderação, não cairias tão depressa na tentação e no pecado.
Quando te achares penetrado dum grande fervor de espírito, é bem que medites no que será
de ti, retirando-se esta graça. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo VII, 4)
5º DIA
(fazer primeiro as orações)
Se eu bem soubesse desprezar todas as consolações humanas, já para adquirir o santo fervor, já
pela infeliz necessidade que me obriga a buscar em Vós a verdadeira consolação que nenhum
homem pode dar-me, então teria eu grande motivo para esperar com razão vossa graça e para
alegrar-me com o dom duma nova consolação.
Graças Vos dou, Senhor, por serdes a fonte de que dimana todo o bem que me sucede.
Eu, homem inconstante e frágil, não sou na vossa presença mais que um nada e uma pura
vaidade. De que posso eu pois gloriar-me, ou com que motivo desejo ser estimado?
Acaso por ser um nada? Porém que coisa mais insensata e vaidosa!
A vã glória é, na verdade, uma peste detestável e um mal terrível, porque nos aparta da
verdadeira glória e nos despoja da graça celestial.
Desde que o homem se compraz em si mesmo, começa a desagradar-Vos; e logo que aspira
aos louvores humanos, perde a verdadeira virtude.
A verdadeira glória e a santa alegria consistem em gloriar-se cada um em Vós e não em si; em
alegrar-se de vossa grandeza e não de sua própria virtude; em não achar prazer em criatura
alguma senão por amor de Vós.
Seja louvado vosso nome e não o meu; engrandecidas sejam vossas obras e não as minhas.
Louvem e abençoem todos os homens a vossa grandeza e nada participe eu de seus louvores.
Vós sois minha glória, Vós sois a alegria de meu coração. Todo o dia me gloriarei e alegrarei
em vós; pois em minha nada tenho em que gloriar-me, senão em minhas fraquezas (2 Cor
12,5) (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XL, 3-5)
6º DIA
(fazer primeiro as orações)
Do exemplo dos Santos Padres.
Considera bem os heróicos exemplos dos Santos Padres, nos quais resplandece a verdadeira
perfeição da vida religiosa, e verás quão pouco ou nada é o que fazemos.
Ai de nós! Que é a nossa vida, comparada com a deles?
Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome, em sede, em frio e nudez, em
trabalhos, em fadigas, em vigílias e jejuns, em rezas e santas meditações, em perseguições e
muitos opróbrios.
Oh! quantas e quão graves tribulações padeceram os apóstolos, os mártires, os confessores, as
virgens, e todos os demais que quiseram seguir as pisadas de Cristo! Pois aborreceram neste
mundo suas vidas para as possuírem na eternidade (Jo 12,25).
Que vida de renúncia e austeridade foi a dos Santos Padres no deserto! Que longas e graves
tentações padeceram! Quantas vezes foram atormentados pelo inimigo! Quão fervorosas e
contínuas orações ofereceram a Deus! Quão rigorosas abstinências praticaram! Que zelo, que
ardor em seu aproveitamento espiritual! Que forte guerra contra suas paixões! Que intenção
pura e reta sempre dirigida para Deus!
De dia trabalhavam e passavam as noites em larga oração; ainda que trabalhando, não
interrompiam a sua oração mental.
Todo o tempo gastavam santamente: as horas lhes pareciam curtas para se darem a Deus; e
pela grande doçura da contemplação se esqueciam da necessária refeição do corpo.
Renunciavam todas as riquezas, honras, dignidades, parentes e amigos: nada queriam do
mundo; apenas tomavam o necessário para a vida, e lhes era pesado servir ao corpo ainda nas
coisas necessárias.
De modo que eram pobres das coisas da terra, porém riquíssimos de graça e virtudes
(Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XVIII, 1-3)
7º DIA
(fazer primeiro as orações)
No exterior tudo lhes faltava; mas interiormente Deus os fortificava com sua graça e recreava
com suas consolações.
Eram estranhos ao mundo; mas íntimos e particulares amigos de Deus.
Tinham-se por nada a si mesmos, e o mundo os tratava com desprezo, mas aos olhos de Deus
eram preciosos e amados.
Estavam em verdadeira humildade, viviam em singela obediência; por isso cada dia cresciam
em espírito e alcançavam muita graça diante de Deus.
Foram dados por exemplo a todos os religiosos; e mais nos devem mover para aproveitarmos
no bem, que a multidão dos tíbios para afrouxarmos em nossos exercícios.
Oh! Quão grande foi o fervor de todos os religiosos no princípio dos seus sagrados institutos!
Quanto ardor na oração! Quanto zelo na virtude! Que severidade de disciplina! Como
florescia a submissão e obediência à regra do santo fundador!
O que ainda nos resta deles nos atesta a santidade e perfeição daqueles homens insignes que,
pelejando esforçadamente, pisaram aos pés o mundo. Agora já se estima em muito aquele que
não transgride a regra, e se com paciência pode sofrer algum dissabor.
Oh! tibieza e negligência de nosso estado, que tão depressa declinamos do fervor primitivo, e
já nos é molesto o viver em conseqüência da frouxidão e tibieza!
Praza a Deus que, tendo visto tantos exemplos de santos homens, de todo se não acabe em ti o
desejo de aproveitar nas virtudes! (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XVIII, 3-6)
8º DIA
(fazer primeiro as orações)
A resistência às tentações.
Enquanto vivemos no mundo, não podemos estar sem trabalhos e tentações.
Por isso está escrito no livro de Jó: A vida do homem sobre a terra é uma contínua tentação
(7,1).
Cada qual, pois, deve ser muito cuidadoso nas tentações, procurando, vigilante na oração, não
dar lugar às ilusões do demônio, que nunca dorme, nem cessa de andar à roda das almas para as
devorar (1Pd 5,8).
Ninguém há tão santo e tão perfeito, que não tenha algumas vezes tentações, e não podemos
viver sem elas.
Se bem que inoportunas e penosas, as tentações são muitas vezes utilíssimas ao homem,
porque através delas se humilha, se instrui e se purifica.
Todos os santos passaram por muitas tentações e trabalhos e foi assim que progrediram na
santidade.
E os que não quiseram suportá-los, falharam e condenaram-se.
Não há ordem tão santa nem lugar tão retirado onde não haja tentações e adversidades.
Nenhum homem está inteiramente livre de tentações enquanto vive; porque em nós mesmos
está a causa donde elas vêm, pois nascemos com inclinação ao pecado.
Passada uma tentação ou tribulação, sobrevém outra, e sempre teremos que sofrer, porque se
perdeu o bem de nossa primeira felicidade.
Muitos querem fugir às tentações e caem nelas mais gravemente.
Mas, não é fugindo que podemos vencê-las, porém é com paciência e verdadeira humildade
que nos fazemos mais fortes que todos os nossos inimigos.
Quem somente evita as ocasiões exteriores e não arranca o mal pela raiz, pouco aproveitará;
antes lhe tornarão mais depressa as tentações e se achará pior que dantes.
Com a ajuda de Deus, mais facilmente vencerás, com paciência e perseverança, do que com
teu próprio esforço e fadiga.
Toma muitas vezes conselho na tentação, e não sejas desabrido e áspero como que está
tentado, antes procura consolá-lo como quiseras ser consolado.
O princípio de toda a tentação é a inconstância de ânimo e a pouca confiança em Deus.
Como um navio sem leme é levado pelas ondas em todas as direções, assim o homem
negligente e inconstante em seus propósitos é tentado de todas as maneiras. (Imitação de Cristo,
Livro I, capítulo XIII, 1-5)
9º DIA
(fazer primeiro as orações)
O fogo prova o ferro, e a tentação o justo.
Muitas vezes não sabemos o que podemos; mas a tentação mostra-nos o que somos.
Devemos, pois, vigiar principalmente no princípio da tentação, porque mais facilmente se
vence o inimigo quando não o deixamos passar da porta da alma, e lhe saímos ao encontro, logo
que bate.
Donde veio dizer um poeta:
Resiste no princípio,
Tarde chega o remédio
Se já, por largo tempo,
O mal lançou raízes.
Porque, primeiramente, se oferece à alma um simples pensamento, podeis, a importuna
imaginação, logo o prazer, o movimento desordenado e o consentimento da vontade.
E assim pouco a pouco entra o inimigo e se apodera de tudo, porque se lhe não resistiu no
princípio.
E quanto mais preguiçoso for o homem em resistir-lhe, tanto se fará cada dia mais fraco, e o
inimigo contra ele mais poderoso.
Alguns padecem graves tentações no princípio de sua conversão, outros, no fim, muitos por
toda a vida.
Alguns são tentados brandamente, segundo a sabedoria e a eqüidade da Divina Providência,
que pondera o estado e os méritos dos homens, e tudo ordena para a salvação de seus escolhidos.
Por isso, não devemos desconfiar quando formos tentados; mas antes rogar a Deus com maior
fervor para que se digne ajudar-nos em toda a atribuição; porque, segundo o dito de São Paulo,
nos dará o auxílio junto com a tentação para que lhe possamos resistir (1Cor 10,13).
Humilhemos, pois, nossas almas, debaixo da mão de Deus em toda tribulação e tentação,
porque ele há de salvar e engrandecer os humildes de espírito (Sl 33,19).
É nas tentações e nos reveses que o homem verifica quanto progrediu; por elas maior se torna
o mérito, e melhor se revelam as virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XIII, 5-7)
10º DIA
(fazer primeiro as orações)
Desprezando-se o mundo, é suave servir a Deus.
Outra vez falarei agora, Senhor, e não me calarei. Direi a meu Deus, meu Senhor e meu Rei,
assentado no trono dos céus:
Ó Senhor, quão grande é a abundância de vossa doçura que reservais para os que Vos temem.
O que não será pois para os que Vos amam, e Vos servem de todo o coração? (Sl 30,20).
Na verdade, são inefáveis as delícias de que inundais os que Vos amam, quando sua alma Vos
contempla.
Eis que me mostrastes singularmente a ternura de vosso amor; quando não existia me criastes,
quando andava errante me chamastes a Vós para que Vos servisse e me pusestes o doce preceito
de Vos amar.
Ó fonte de amor perene! Que direi de Vós? Poderei eu esquecer-me de Vós, que Vos dignastes
lembrar-vos de mim, quando eu jazia no abismo da corrupção e da morte?
Usastes de misericórdia com vosso servo sobre toda esperança; e além de todo merecimento
me concedestes vossa graça e amizade.
Com que Vos agradecerei, Senhor, um tão singular favor? Porque nem a todos é permitido
deixar tudo, renunciar o mundo para abraçar a vida religiosa.
Porventura é grande coisa que eu Vos sirva, quando toda criatura está obrigada a servir-vos?
Conheço que não faço coisa grande em vos servir; mas o que me enche da mais profunda
admiração, e que meu conceito parece grande é que vos digneis receber-me ao vosso serviço e
unir-me com vossos amados servos, sendo eu tão pobre e tão indigno desta honra.
Vossas são, pois, todas as coisas que tenho, e ainda o serviço que Vos faço é um dom que me
concedeis.
Eu devia fazer tudo por vosso amor, e sucede que mais servis Vós a mim do que eu a Vós.
Criastes para o serviço do homem o céu e a ter, que estão sempre em vossa presença e fazem
cada dia o que lhes mandais; e isto ainda é pouco, pois até haveis destinado os anjos para o
servirem.
Mas não pára aqui vossa bondade infinita, pois Vos dignastes servir ao homem e lhe
prometestes que Vos daríeis a ele com toda a vossa glória.
Que vos darei, meu Deus, por tantos milhares de benefícios? Oh! se eu pudesse servir-vos
todos os dias de minha vida! Se pudesse ao menos servir-vos dignamente um só dia!
Em verdade só Vós sois digno de ser por todos servido, honrado e louvado eternamente.
Vós sois, na realidade, meu senhor e eu vosso pobre escravo, obrigado a servir-vos com todas
as minhas forças, sem jamais me cansar de publicar vossos louvores.
Assim o quero, assim o desejo: dignai-Vos de suprir por vossa graça o que me falta para
cumprir este meu desejo.
Que honra, Senhor, que glória não é servir-Vos e desprezar tudo por amor de Vós!
Inúmeras graças receberão aqueles que voluntariamente se sujeitarem a Vós.
Acharão a suavíssima consolação do Espírito Santo os que, por vosso amor, desprezarem
todos os atrativos da carne. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo X, 1-50)
11º DIA
(fazer primeiro as orações)
Da fervorosa emenda de toda a nossa vida
Um homem que flutuava muitas vezes, cheio de ansiedade, entre o temor e a segurança, estando um dia oprimido de tristeza, entrou numa igreja e, prostrando-se diante dum altar para fazer sua oração, dizia e repetia consigo mesmo: Oh! se eu soubesse que havia de perseverar! E logo ouviu no íntimo d'alma esta divina resposta: Que farias se isso soubesses? Faze agora o que
desejarias fazer e estarás seguro.
E no mesmo instante, consolado e fortalecido, se ofereceu à divina vontade, e cessou sua ansiosa turbação.
Nem quis curiosamente esquadrinhar o que lhe havia de suceder; aplicou-se unicamente a conhecer a vontade de Deus, e o que a seus divinos olhos fosse mais agradável e perfeito para começar a perfazer toda a boa obra.
Espera no Senhor, diz o Profeta, faze boas obras, habitarás em paz a terra, e serás alimentado com as suas riquezas (Sl 36,3).
Uma coisa resfria em alguns o ardor de aproveitar e de se emendar: o receio das dificuldades ou o trabalho da peleja.
Certamente aproveitam mais nas virtudes aqueles que com maior empenho trabalham por vencer-se a si mesmos naquilo que lhes é mais penoso e contraria mais as suas inclinações.
Porque o homem tanto mais aproveita e tanto maior graça alcança, quanto mais se vence a si mesmo e se mortifica no espírito.
Porém, nem todos têm igual ânimo para vencer-se e mortificar-se.
Mas o diligente e zeloso imitador de Cristo mais forte será para o seu aproveitamento, ainda que seja combatido de muitas paixões, do que o que tem dom natural, se é menos fervoroso em adquirir as virtudes. (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXV, 2-4)
3º DIA
(fazer primeiro as orações)
Não julgueis, e não sereis julgados.
Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos.
Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu?
Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
Não lanceis aos cães as coisas santas, não atireis aos porcos as vossas pérolas, para que não as calquem com os seus pés, e, voltando-se contra vós, vos despedacem.
Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.
Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca, acha. A quem bate, abrir-se-á.
Quem dentre vós dará uma pedra a seu filho, se este lhe pedir pão?
E, se lhe pedir um peixe, dar-lhe-á uma serpente?
Se vós, pois, que sois maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celeste dará boas coisas aos que lhe pedirem.
Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas.
Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí entram.
Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os que o encontram. (Mt 7,1-14)
12º DIA
(fazer primeiro as orações)
Mas se vires alguma coisa digna de repreensão, guarda-te de fazê-la; e, se em igual falta caíste, procura emendar-te logo dela.
Assim como tu observas os outros, assim também eles te observam.
Oh! que alegre e doce coisa é ver os devotos e fervorosos irmãos com santos costumes e bem disciplinados.
Pelo contrário, que triste e penoso é vê-los andar desordenados, e sem se ocuparem nos compromissos de sua vocação!
Oh! quão nocivo é ser descuidado no propósito de sua vocação, e cuidadoso no que Deus não ordena!
Lembra-te do propósito que tomaste e propõe-te por modelo a Cristo Crucificado.
Com razão te podes envergonhar, considerando a vida de Jesus Cristo, de não ter feito até aqui bastante esforço para te conformares com ela, estando há tanto tempo no caminho de Deus.
O religioso que, devota e cuidadosamente, se exercita a meditar na santíssima vida e dolorosa paixão do Senhor, acha nela com abundância tudo que é útil e necessário para sua santificação: e não precisa buscar coisa nenhuma melhor for a Jesus Cristo.
Oh! se Jesus Crucificado viesse a nosso coração, quão depressa e completamente seríamos ensinados!
O homem fervoroso e diligente está preparado para tudo.
Maior trabalho é resistir aos vícios e paixões, que suar nos trabalhos corporais.
Quem não evita as faltas pequenas, pouco a pouco cai nas grandes (Ecl 29,1).
Alegrar-te-ás sempre à noite, se empregares com fruto teu dia.
Vigia sobre ti; exorta-te, admoesta-te; e aconteça o que acontecer aos outros, não te descuides de ti mesmo.
Tanto aproveitarás, quanto for a violência que fizeres a ti mesmo... (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXV, 5-6.11)
13º DIA
(fazer primeiro as orações)
Um dia, num certo lugar, estava Jesus a rezar. Terminando a oração, disse-lhe um de seus discípulos: Senhor, ensina-nos a rezar, como também João ensinou a seus discípulos.
Disse-lhes ele, então: Quando orardes, dizei: Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso Reino; dai-nos hoje o pão necessário ao nosso sustento; perdoai-nos os nossos pecados, pois também nós perdoamos àqueles que nos ofenderam; e não nos deixeis cair em tentação.
Em seguida, ele continuou: Se alguém de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite, e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, pois um amigo meu acaba de chegar à minha casa, de uma viagem, e não tenho nada para lhe oferecer; e se ele responder lá de dentro: Não me incomodes; a porta já está fechada, meus filhos e eu estamos deitados; não posso levantar-me para te dar os pães; eu vos digo: no caso de não se levantar para lhe dar os pães por ser seu amigo,
certamente por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães necessitar.
E eu vos digo: pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo aquele que pede, recebe; aquele que procura, acha; e ao que bater, se lhe abrirá. (Lucas 11, 1 10).
14º DIA
(fazer primeiro as orações)
Da obediência do súdito humilde conforme o exemplo de Jesus Cristo.
Filho, quem procura apartar-se da obediência, aparta-se também da graça; e quem procura o seu bem particular, priva-se dos bens comuns gerais.
Quando alguém não se sujeita de bom grado a seu superior, sinal é que sua carne ainda não obedece perfeitamente, mas que se rebela ainda muitas vezes contra o espírito.
Aprende, pois, a submeter-se prontamente a teu superior, se desejas ter a tua carne sujeita.
Porque o inimigo de fora é bem depressa vencido, quando o homem não tem a guerra dentro de si mesmo.
Não há inimigo pior nem mais perigoso para tua alma que tu mesmo.
É necessário que te desprezes a ti mesmo, se queres vencer a carne e o sangue.
Mas porque ainda te amas desordenadamente, por isso receias sujeitar-te de todo à vontade dos outros.
Ora, que haverá de especial em que tu, pó e cinza, te submetas ao homem por amor de Deus, quando eu, Onipotente e Altíssimo que tudo criei do nada, me sujeitei humildemente ao homem por teu amor?
Fiz-me o mais humilde e abatido de todos, para que minha humildade te ensinasse a vencer a tua soberba.
Aprende a obedecer, pó soberbo; aprende, barro e lodo, a humilhar-te e a meter-te debaixo dos pés de todos.
Aprende a quebrantar tua vontade e a fazer-te vítima da obediência. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XIII, 1-2)
15º DIA
(fazer primeiro as orações)
Neste mesmo tempo contavam alguns o que tinha acontecido a certos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios.
Jesus toma a palavra e lhes pergunta: Pensais vós que estes galileus foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por terem sido tratados desse modo? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo. Ou cuidais que aqueles dezoito homens, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados do que todos os demais habitantes de Jerusalém? Não, digo-vos. Mas se não vos arrependerdes, perecereis todos do mesmo modo. (Lc 13,1-5)
Para despojar-nos de nós mesmos, é preciso que todos os dias morramos para nós, i. é, importa renunciarmos às operações das faculdades da alma e dos sentidos do corpo, precisamos ver como se não víssemos, ouvir como se não ouvíssemos, servir-nos das coisas deste mundo como se não o fizéssemos (cf. 1 Cor 7, 29-31), o que São Paulo chama morrer todos os dias: "Quotidie morior" (1 Cor 15, 31).
"Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só, e não produz fruto apreciável" (Jo 12, 24-25). Se não morrermos a nós mesmos, e se as mais santas devoções não nos levarem a esta morte necessária e fecunda, não produziremos fruto que valha, nossas devoções serão inúteis, todas as nossas obras de justiça ficarão manchadas por nosso amor-próprio e nossa própria vontade, e Deus abominará os maiores sacrifícios e as melhores ações que possamos fazer. Na
hora da nossa morte, teremos as mãos vazias de virtudes e de méritos, e não brilhará em nós a menor centelha do puro amor, que só é comunicado às almas mortas a si mesmas, almas cuja vida está oculta com Jesus Cristo em Deus (Col 3, 3). (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 81)
É preciso escolher, entre todas as devoções à Santíssima Virgem, a que nos leva com mais certeza a este aniquilamento do próprio eu. Esta será a devoção melhor e mais santificante, pois é mister reconhecer que nem tudo que luz é ouro, nem tudo que é doce é mel, e nem tudo que é fácil de fazer e praticar é o mais santificante. Do mesmo modo que a natureza tem segredos para fazer em pouco tempo, sem muitos gastos e com facilidade, certas operações naturais, há segredos, na ordem da graça, pelos quais se fazem, em pouco tempo, com doçura e facilidade,
operações sobrenaturais, como despojar-nos de nós mesmos, encher-nos de Deus, e tornar-nos perfeitos. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 82)
16º DIA
(fazer primeiro as orações)
Recordar que durante a primeira semana aplicarão todas as suas orações e atos de piedade para pedir o conhecimento de si mesmo e a contrição por seus pecados. Tudo farão em espírito de humildade.
Para isso poderão, se quiserem, meditar sobre o que ficou dito sobre o nosso fundo de maldade, e considerar-se, nos seis dias desta semana, como uma lesma, um sapo, um porco, uma serpente, um bode; ou, então, estas três palavras de São Bernardo: “Pensa no que foste: um pouco de lodo; no que és: vaso de escórias; no que serás: pasto de vermes”.
Pedirão a Nosso Senhor e a seu Espírito Santo que os esclareça, dizendo “Senhor, fazei com que eu veja”. (Lc 18,41); ou “Que eu conheça” (Santo Agostinho); ou “Vinde, Espírito Santo”...
Recorrerão à Santíssima Virgem e lhe pedirão esta grande graça que deve ser o fundamento das outras, e para isso recitarão todos os dias o “Ave, Maris Stella” e as ladainhas”. (Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, 228)
Da consideração de si mesmo. Não devemos confiar demasiado em nós mesmos, porque muitas vezes nos faltam a graça e o discernimento.
Pouca luz há em nós, e esse pouco perdemo-lo depressa, por nossos descuido.
Muitas vezes também agimos mal, e ainda pior nos desculpamos.
Às vezes somos levados pela paixão, e julgamos que é o zelo.
Repreendemos nos outros as faltas pequenas e desculpamos as nossas, mesmo as mais graves.
Mui depressa sentimos e nos magoamos como que sofremos dos outros; mas não pensamos muito no quanto os outros sofrem por causa de nós.
O que bem e retamente examinar suas ações, não terá que julgar severamente as alheias.
(Imitação de Cristo, Livro II, capítulo V, 1)
17º DIA
(fazer primeiro as orações)
Do juízo e penas dos pecadores Em todas as coisas olha o fim, e como se encontrarás diante daquele retíssimo juiz para quem nada há oculto, que não se abranda com mpresentes, nem admite desculpas, mas julgará segundo a justiça. Ó néscio e miserável pecador! Que responderás a Deus que sabe todas as tuas maldades, tu que às vezes temes o rosto de um homem irado?
Por que não te acautelas para o dia do Juízo, quando ninguém pdoerá ser desculpado nem defendido por outrem, mas cada um terá bastante que fazer por si? (Imitação de Cristo, Livro I, capítulo XXIV, 1)
Jesus disse também a seus discípulos: Havia um homem rico que tinha um administrador. Este lhe foi denunciado de ter dissipado os seus bens.
Ele chamou o administrador e lhe disse: Que é que ouço dizer de ti? Presta contas da tua administração, pois já não poderás administrar meus bens.
O administrador refletiu então consigo: Que farei, visto que meu patrão me tira o emprego?
Lavrar a terra? Não o posso. Mendigar? Tenho vergonha. Já sei o que fazer, para que haja quem me receba em sua casa, quando eu for despedido do emprego.
Chamou, pois, separadamente a cada um dos devedores de seu patrão e perguntou ao primeiro: Quanto deves a meu patrão?
Ele respondeu: Cem medidas de azeite. Disse-lhe: Toma a tua conta, senta-te depressa e escreve: cinqüenta.
Depois perguntou ao outro: Tu, quanto deves? Respondeu: Cem medidas de trigo. Disse-lhe o administrador: Toma os teus papéis e escreve: oitenta.
E o proprietário admirou a astúcia do administrador, porque os filhos deste mundo são mais prudentes do que os filhos da luz no trato com seus semelhantes. (Lucas 16, 1 8).
18º DIA
(fazer primeiro as orações)
Jesus disse também a seus discípulos: É impossível que não haja escândalos, mas ai daquele por quem eles vêm! Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos. Tomai cuidado de vós mesmos. Se teu irmão pecar, repreende-o; se se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar sete vezes no dia contra ti e sete vezes no dia vier procurar-te, dizendo: Estou arrependido, perdoar-lhe-ás.
Os apóstolos disseram ao Senhor: Aumenta-nos a fé!
Disse o Senhor: Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: Arranca-te e transplanta-te no mar, e ela vos obedecerá. Qual de vós, tendo um servo ocupado em lavrar ou em guardar o gado, quando voltar do campo lhe dirá: Vem depressa sentar-te à mesa? E não lhe dirá ao contrário: Prepara-me a ceia, cinge-te e serve-me, enquanto como e bebo, e depois disto comerás e beberás tu? E se o servo tiver feito tudo o que lhe ordenara, porventura fica-lhe o senhor devendo alguma obrigação? Assim também vós, depois de terdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: Somos servos como quaisquer outros; fizemos o que devíamos fazer. (Lucas 17, 1 10).
Devem sofrer-se todos os males temporais, na esperança dos bens eternos Filho, não esmoreças nos trabalhos que por mim empreendeste, nem te desanimes com as tribulações, mas em tudo que te acontecer, minhas promessas te consolem e fortifiquem.
Eu sou assaz poderoso para dar-te uma recompensa sem limites e sem medida. Os trabalhos que agora padeces não serão dilatados, nem sempre viverás oprimido de dores.
Espera um pouco e verás quão depressa passam os males. Virá uma hora em que cessará todo o trabalho e inquietação. Sempre é breve tudo o que passa com o tempo. (Imitação de Cristo, Livro III, capítulo XLVII, 1)
19º DIA
(fazer primeiro as orações)
Trouxeram-lhe também criancinhas, para que ele as tocasse. Vendo isto, os discípulos as repreendiam.
Jesus, porém, chamou-as e disse: Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se parecem com elas. Em verdade vos declaro: quem não receber o Reino de Deus como uma criancinha, nele não entrará.
Um homem de posição perguntou então a Jesus: Bom Mestre, que devo fazer para possuir a vida eterna?
Jesus respondeu-lhe: Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus. Conheces os mandamentos: não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; honrarás pai e mãe.
Disse ele: Tudo isso tenho guardado desde a minha mocidade.
A estas palavras, Jesus lhe falou: Ainda te falta uma coisa: vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me.
Ouvindo isto, ele se entristeceu, pois era muito rico.
Vendo-o entristecer-se, disse Jesus: Como é difícil aos ricos entrar no Reino de Deus! É mais fácil passar o camelo pelo fundo duma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus.
Perguntaram os ouvintes: Quem então poderá salvar-se?
Respondeu Jesus: O que é impossível aos homens é possível a Deus.
Pedro então disse: Vê, nós abandonamos tudo e te seguimos.
Jesus respondeu: Em verdade vos declaro: ninguém há que tenha abandonado, por amor do Reino de Deus, sua casa, sua mulher, seus irmãos, seus pais ou seus filhos, que não receba muito mais neste mundo e no mundo vindouro a vida eterna. (Lc 18, 15 30)
20º DIA
(fazer primeiro as orações)
Foram com grande pressa e acharam Maria e José, e o menino deitado na manjedoura.
Vendo-o, contaram o que se lhes havia dito a respeito deste menino. Todos os que os ouviam admiravam-se das coisas que lhes contavam os pastores.
Maria conservava todas estas palavras, meditando-as no seu coração.
Voltaram os pastores, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, e que estava de acordo com o que lhes fora dito.
Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno. (Lucas 2, 16 21).
Tendo ele atingido doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume da festa.
Acabados os dias da festa, quando voltavam, ficou o menino Jesus em Jerusalém, sem que os seus pais o percebessem.
Pensando que ele estivesse com os seus companheiros de comitiva, andaram caminho de um dia e o buscaram entre os parentes e conhecidos.
Mas não o encontrando, voltaram a Jerusalém, à procura dele.
Três dias depois o acharam no templo, sentado no meio dos doutores, ouvindo-os e
interrogando-os.
Todos os que o ouviam estavam maravilhados da sabedoria de suas respostas.
Quando eles o viram, ficaram admirados. E sua mãe disse-lhe: Meu filho, que nos fizeste?!
Eis que teu pai e eu andávamos à tua procura, cheios de aflição.
Respondeu-lhes ele: Por que me procuráveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?
Eles, porém, não compreenderam o que ele lhes dissera.
Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso. Sua mãe guardava todas estas coisas no seu coração.
E Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça, diante de Deus e dos homens. (Lucas 2, 42 52).
21º DIA
(fazer primeiro as orações)
A verdadeira devoção à Santíssima Virgem Para subir e unir-se a Jesus, é preciso se valer do mesmo meio que Ele usou para descer a nós, para fazer-se homem e para nos comunicar suas graças; e esse meio é "a verdadeira devoção à Santíssima Virgem".
Há muitas devoções à Virgem Santíssima, e verdadeiras: pois não falo aqui das falsas.
Consiste a primeira em cumprir com os deveres de cristão, evitando o pecado mortal, operando mais por amor do que por temor, rogando de tempo em tempo à Santíssima Virgem e honrando-a como Mãe de Deus, sem nenhuma outra devoção especial a Ela.
A segunda tem para com a Virgem mais altos sentimentos de estima, amor, veneração e confiança; induz a entrar nas confrarias do Santo Rosário e do escapulário, a rezar "a coroa" ou o Santo Rosário: a honrar as imagens e altares de Maria, a publicar seus louvores, a alistar-se em suas congregações.
E todas estas devoções são boas. Desde que nos abstenhamos de pecar, é boa, santa e louvável; mas não tanto como a que segue, para afastar as almas das criaturas e desprendê-las de si mesmas, a fim de uni-las a Jesus Cristo.
A terceira maneira de devoção à Santíssima Virgem, conhecida e praticada por muito poucas pessoas, é, almas predestinadas, a que vou lhes revelar.
Consiste em dar-se todo inteiro, como escravo, a Maria e a Jesus por Ela; e além disso, em fazer todas as coisas com Maria, em Maria, por Maria e para Maria.
É preciso escolher um dia determinado para entregar-se, consagrar-se e sacrificar-se; e isto terá que ser voluntariamente e por amor, por inteiro e sem reserva alguma; corpo e alma: bens exteriores e riqueza, tais como casa, família, rendimentos, etc., e bens interiores da alma, a saber: seus méritos, graças, virtudes e satisfações.
22º DIA
(fazer primeiro as orações)
Características da verdadeira devoção a Maria Interior: a verdadeira devoção à Santíssima Virgem é interior, isto é, parte do espírito e do coração. Vem da estima em que se tem a Santíssima Virgem, da alta idéia que se formou de suas grandezas, e do amor que se lhe consagra.
Terna: é terna, quer dizer cheia de confiança na Santíssima Virgem, da confiança de um filho em sua mãe. Impele uma alma a recorrer a ela em todas as necessidades do corpo e do espírito, com extremos de simplicidade, de confiança e de ternura.
Santa: a verdadeira devoção à Santíssima Virgem é santa: leva uma alma a evitar o pecado e a imitar as virtudes da Santíssima Virgem, principalmente sua humildade profunda, sua contínua oração, sua obediência cega, sua fé viva, sua mortificação universal, sua pureza divina, sua caridade ardente, sua paciência heróica, sua doçura angélica e sua sabedoria divina. Aí estão as dez virtudes principais da Santíssima Virgem.
Constante: a verdadeira devoção à Santíssima Virgem é constante, firma uma alma no bem, e ajuda-a a perseverar em suas práticas de devoção. Torna-a corajosa para se opor ao mundo em suas modas e máximas, à carne, em seus aborrecimentos e paixões, e ao demônio, em suas tentações. Assim, uma pessoa verdadeiramente devota da Santíssima Virgem não é volúvel, nem se deixa dominar pela melancolia, pelos escrúpulos ou pelos receios.
Desinteressada: a verdadeira devoção à Virgem Santíssima é desinteressada, leva a alma a buscar não a si mesma, mas somente a Deus em sua Mãe Santíssima. O verdadeiro devoto de Maria não serve a esta augusta Rainha por espírito de lucro e de interesse, nem para seu bem temporal ou eterno, corporal ou espiritual, mas unicamente porque ela merece ser servida, e Deus exclusivamente nela.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 105 a 110)
23º DIA
(fazer primeiro as orações)
Em quê consiste "a perfeita Consagração a Jesus por Maria".
A mais perfeita devoção é aquela pela qual nos conformamos, unimos e consagramos mais perfeitamente a Jesus Cristo, pois toda a nossa perfeição consiste em sermos conformados, unidos e consagrados a ele. Ora, pois que Maria é, de todas as criaturas, a mais conforme a Jesus Cristo, segue daí que, de todas as devoções, a que mais consagra e conforma uma alma a Nosso Senhor é a devoção à Santíssima Virgem, sua santa Mãe, e que, quanto mais uma alma se consagrar a Maria, mais consagrada estará a Jesus Cristo.
Eis por que a perfeita consagração a Jesus Cristo nada mais é que uma perfeita e inteira consagração à Santíssima Virgem, e nisto consiste a devoção que eu ensino; ou, por outra, uma perfeita renovação dos votos e promessas do santo batismo.
Esta devoção consiste, portanto, em entregar-se inteiramente à Santíssima Virgem, a fim de, por ela, pertencer inteiramente a Jesus Cristo. É preciso dar-lhe 1° nosso corpo com todos os seus membros e sentidos, 2° nossa alma com todas as suas potências, 3° nossos bens exteriores, que chamamos de fortuna, presentes e futuros, 4° nossos bens interiores e espirituais, que são nossos méritos, nossas virtudes e nossas boas obras passadas, presentes e futuras. Numa palavra, tudo que temos na ordem da natureza e na ordem da graça, e tudo que, no porvir, poderemos ter na ordem da natureza, da graça e da glória, e isto sem nenhuma reserva, sem a reserva sequer de um real, de um cabelo, da menor boa ação, para toda a eternidade, sem pretender nem esperar a mínima recompensa de sua oferenda e de seu serviço, a não ser a honra de pertencer a Jesus Cristo por ela e nela, mesmo que esta amável Senhora não fosse, como é sempre, a mais liberal e
reconhecida das criaturas.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 120 e 121)
24º DIA
(fazer primeiro as orações)
Esta devoção é um caminho fácil, curto, perfeito e seguro para chegar à união com Nosso Senhor, e nisto consiste a perfeição do cristão.
É um caminho fácil; é um caminho que Jesus Cristo abriu quando veio a nós, e no qual não há obstáculo que nos impeça de chegar a ele. Pode-se, é verdade, chegar a ele por outros caminhos; mas encontram-se muito mais cruzes e mortes estranhas, e muito mais empecilhos, que dificilmente se vencem.
É um caminho curto. Esta devoção à Santíssima Virgem é um caminho curto para
encontrar Jesus Cristo, seja porque dele não nos extraviamos, seja porque, como acabo de dizer, nele marchamos com mais alegria e facilidade, e, conseqüentemente, com mais prontidão.
Avançamos mais, em pouco tempo de submissão e dependência a Maria, do que em anos inteiros de vontade própria e contando apenas com o próprio esforço.
É um caminho perfeito. Esta prática de devoção à Santíssima Virgem é um caminho
perfeito para ir e unir-se a Jesus Cristo, pois Maria é a mais perfeita e a mais santa das criaturas, e Jesus Cristo, que veio perfeitamente a nós, não tomou outro caminho em sua grande e admirável viagem. O Altíssimo, o Incompreensível, o Inacessível, aquele que é, quis vir a nós, pequenos vermes da terra, que nada somos. Como se fez isto? O Altíssimo desceu perfeita e divinamente até nós por meio da humilde Maria, sem nada perder de sua divindade e santidade; e por Maria
que os pequeninos devem subir perfeita e divinamente ao Altíssimo sem recear coisa alguma.
É um caminho seguro. Esta devoção à Santíssima Virgem é um caminho seguro para irmos a Jesus Cristo e adquirirmos a perfeição, unindo-nos a ele: Porque esta prática, preconizada por mim, não é nova; é tão antiga, que não se pode (...) determinar-lhe com toda a precisão os começos. Nem seria possível condená-la sem derrubar os fundamentos do cristianismo. Fica, portanto, de pé que esta devoção não é nova, e que não é comum, por ser preciosa demais para
ser apreciada e praticada por todo mundo.
Esta devoção é um meio seguro para ir a Jesus Cristo, porque pertence à Santíssima Virgem e lhe é próprio conduzir-nos a Jesus Cristo, como compete a Jesus Cristo conduzir-nos ao Pai celestial.
(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, nº.s 152, 155, 157, 159, 163 e 164)